Manifesto Ju Royo - março 2021

Regenerar relações é regenerar o mundo, a vida na Terra. É resgatar nossa humanidade e redesenhar as narrativas que contam sobre o que é ser humano. Um resgate do sentir, da sensorialidade, da conexão com o corpo e com tudo o que é vivo. 

Relembrar que ser humano é bicho, mamífero, que nós somos natureza. Que temos a habilidade inata de nos expressar, nos comunicar, criar estratégias, recriar, nos afetar. Afeto é palavra-chave aqui. Assim como escuta.

Escutar: como estou me sentindo, as minhas necessidades e vozes internas. O meu corpo. A Terra. Escutar o outro, os sentimentos, e necessidades do outro. Escutar e visibilizar as estruturas sistêmicas que nos compõem e como elas afetam diretamente nossas relações e nosso olhar pra nós mesmos e pro mundo. Sem correr pra dar respostas; abandonando a falácia de que é preciso anular o outro para ganhar. 

Esse é um manifesto para nos relembrar que o centro da vida são as relações. Que tudo o que é vivo, inclusive nós, seres humanos, é pautado pelas relações – entre espécies, entre gerações, entre nutrientes, entre ambientes e sistemas. 

 

Como você tem cuidado dos seus relacionamentos? Nas diversas áreas da vida. Como você tem nutrido suas relações?  

Esse é um manifesto, sobretudo, para abrir campo seguro pro sentir. Se permitir sentir o cansaço, a pressa, os incômodos… sem precisar fugir das sensações ou querer anestesiar rápido. Entrar em contato com a nossa natureza humana e agir a partir disso. Se permitir sentir também os prazeres, a brisa no corpo, o maravilhamento que é estar viva, e, a habilidade de estar diferente do que cinco minutos atrás. 

Percebe que não somos máquinas? Ser humano é ser bicho. É complexo. Biodiverso. Múltiplo. Não-linear. Inter-relacional. Mesmo que seja criada uma cultura que tente industrializar as relações (de trabalho, familiares, sexuais, ambientais), somos uma espécie de bicho que evoluiu em comunidade, que aprendeu a sobreviver trocando experiência em roda, contando suas histórias, ensinando seus aprendizados, partilhando seus medos e descobertas. Uma espécie que sobreviveu desenvolvendo ferramentas sociais sofisticadas. Desenvolvemos linguagens complexas para dar conta do nosso imaginário, de expressar o que nos habita dentro e o que enxergamos fora. A comunicação é um ponto-chave de sobrevivência e desenvolvimento da nossa espécie.

Gostando ou não de admitir, nós vivemos em comunidade. Algumas intencionais, outras circunstanciais. Comunidade família, comunidade prédio, comunidade vila, comunidade cidade, comunidade planeta Terra. 

 

Que narrativas estamos construindo sobre as nossas comunidades? Que histórias estamos contando sobre nós?

O caminho de resgate de humanidades que esse manifesto propõe é um caminho de desdoma do nosso imaginário. Um caminho da não-violência, da não-submissão à narrativa da guerra produtivista. O que está por trás da violência estrutural imposta ao território corpo é uma colonização violenta do campo das ideias, da nossa capacidade de criar e enxergar o mundo. Criar mundos onde a gente possa existir com integridade, sem negar nossas sensações, sem querer silenciar ou excluir partes nossas e partes do outro para caber em um modelo.

Quem te ensinou que a sua espécie é perversa, é perigosa? Quem te ensinou a ter medo de você mesmo e de outros seres humanos? Quem te ensinou a desconfiar, criando uma sensação de constante insegurança e escassez? Uma sociedade assustada, que não confia no apoio, se desestrutura, ao invés de buscar estratégias de regeneração e saúde integral.  

O que eu acredito e proponho, é que podemos desobedecer a essa lógica. Desembrutecer.  Abrir espaço pra sentir, pra falar sobre nossos medos, sobre o que nos faz vibrar e o que nos dói, reconhecendo que o desenho social é feito para oprimir e que várias pessoas estão exaustas como consequência. Meu convite é relembrar que somos solo fértil para gerar novas narrativas. Entrar em contato com as emoções não é perigoso, o que precisamos é de repertório e rede de apoio. 

A forma como escolhemos nos comunicar está diretamente ligada aos estímulos e crenças que recebemos. Que a gente possa se conectar com o nosso corpo, com a nossa natureza humana e possa cuidar das relações com a autoescuta como premissa. Se queremos viver em um mundo melhor, as relações precisam estar no centro das pautas de regeneração. 

Assim é o mundo que eu quero viver, assim é como eu acredito que posso colocar meus dons a serviço da regeneração das relações. Assim eu convoco todes nós pra esse olhar.

Sol

Em diversas culturas o sol é o símbolo da força criadora, do conhecimento, da celebração, da energia e fonte da vida na Terra.

Água e Ar

Água e ar são fontes primárias de comunicação e disseminação de informações na natureza. E por isso a mistura desses elementos é tão simbólica e representativa.

Mão

O que marca nossa humanidade? Do que ela é composta?


Quando olho para mãos humanas marcadas nas pedras, me conecto imediatamente com a necessidade de deixarmos nossa marca.

Ju Royo é ativista da autoescuta, da Comunicação Não-Violenta e da (re)conexão corporal. Apoia pessoas a cuidarem da saúde das suas relações e criarem uma vida mais autêntica, autônoma e conectada.